segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Distância



Horizonte
céu - inferno
Eu - você

Há mar

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Diálogos

Me descarna os lábios
o peito assim morno
Me prende a alma
a boca seca de palavras
àqueles que vieram ao mundo para se expressar,
mas não possuem o dom das palavras, o que resta?
- o gesto amargo e dedutivo. e se o que assoma são as partes vazias do dialógo, como então preencher com o vão dos gestos, da dança, da arte?
àqueles que buscam as palavras perdidas: o silêncio.
O único que se mostra em demasia e revela as intenções desnudas de sintaxe.
Aquele que unicamente pertence ao tempo e com ele preenche todo o espaço.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Pensamentos

As esquálidas rosas de setembro (perene sentimento) me enchem de uma ambigüidade múltipla em que ora tento ora desisto de ser e não ser.

Sempre gostei dos ventos (brisas mornas de inquietude) entre o inverno e a primavera (aquele finzinho de inverno). Nesses dias, o peito infla de esperança e se me pego na estrada vejo a vida passageira (do lado da janela). Por sorte, existe uma parada.

Ou poderia viver assim, pensando os pensamentos e dilatando o tempo (sonhando acordada).

domingo, 26 de outubro de 2008

sábado, 25 de outubro de 2008

Ela levantou da cama, estava suada, mas sentia frio. Parou na porta e olhou o relógio na parede por alguns minutos, um tic e um tac. Eram duas horas da madrugada. Desviou de onde queria ir (ela nem lembrava mais). Entrou no banheiro. Olhou-se no espelho, sua face tinha uma cor estranha, seus olhos pareciam estranhos, sua boca era estranha, seu cabelo não era aquele. Foi assim que descobriu que estava perdida.

Foi beber água, não sentia sede, mas tinha algo preso em sua garganta. Tentou cuspir, vomitar, mas a coisa persistia entalada. Era algo cortante, sentia o gosto de sangue. A coisa a impedia de pedir ajuda, de atender ao telefone, de morrer ali.

“Ora - pensou- deve ser algo que eu comi. Peixe talvez”. A coisa dava uma dor no peito. Comida não entrava. As palavras saiam cortadas, sua voz estava rouca. Não se importava muito, pois não sentia vontade de falar. Tentou por algum tempo, tudo em vão. Voltou pra cama, tentou reconhecer o lugar que estava, mas sentiu que era grande demais. Já não lhe pertencia.

Num rompente frenético de suas mãos a procura de apoio, qualquer um, derrubou um livro. De dentro do livro caiu uma foto. Ficou estarrecida quando viu: “Então era assim? Era assim que as pessoas se sentiam? A foto ficaria ali pra lembrar-me?” ,pensou. A foto lhe trouxe a memória. Ela se lembrou da última noite, lembrou quem era. A coisa na garganta saiu num estranho arroto.

As lágrimas lavaram sua garganta. Ela gritou, pediu ajuda, já podia morrer ali. Lembrou que estava com o estômago vazio desde o pequeno almoço. Recordou, por fim, o que a deixara assim. Lembrou de quem eram aqueles olhos (ou não mais). Percebeu que as lágrimas trouxeram um tormento bem pior. Estava ciente que agora teria que encarar o espelho. Era ela contra ela mesma.