domingo, 26 de outubro de 2008

sábado, 25 de outubro de 2008

Ela levantou da cama, estava suada, mas sentia frio. Parou na porta e olhou o relógio na parede por alguns minutos, um tic e um tac. Eram duas horas da madrugada. Desviou de onde queria ir (ela nem lembrava mais). Entrou no banheiro. Olhou-se no espelho, sua face tinha uma cor estranha, seus olhos pareciam estranhos, sua boca era estranha, seu cabelo não era aquele. Foi assim que descobriu que estava perdida.

Foi beber água, não sentia sede, mas tinha algo preso em sua garganta. Tentou cuspir, vomitar, mas a coisa persistia entalada. Era algo cortante, sentia o gosto de sangue. A coisa a impedia de pedir ajuda, de atender ao telefone, de morrer ali.

“Ora - pensou- deve ser algo que eu comi. Peixe talvez”. A coisa dava uma dor no peito. Comida não entrava. As palavras saiam cortadas, sua voz estava rouca. Não se importava muito, pois não sentia vontade de falar. Tentou por algum tempo, tudo em vão. Voltou pra cama, tentou reconhecer o lugar que estava, mas sentiu que era grande demais. Já não lhe pertencia.

Num rompente frenético de suas mãos a procura de apoio, qualquer um, derrubou um livro. De dentro do livro caiu uma foto. Ficou estarrecida quando viu: “Então era assim? Era assim que as pessoas se sentiam? A foto ficaria ali pra lembrar-me?” ,pensou. A foto lhe trouxe a memória. Ela se lembrou da última noite, lembrou quem era. A coisa na garganta saiu num estranho arroto.

As lágrimas lavaram sua garganta. Ela gritou, pediu ajuda, já podia morrer ali. Lembrou que estava com o estômago vazio desde o pequeno almoço. Recordou, por fim, o que a deixara assim. Lembrou de quem eram aqueles olhos (ou não mais). Percebeu que as lágrimas trouxeram um tormento bem pior. Estava ciente que agora teria que encarar o espelho. Era ela contra ela mesma.